quinta-feira, 7 de junho de 2012

Morte No Maternal

Todo o dia, ela olhava para as mesmas coisas sem graça, vivia as mesmas situações sem graça e acreditava piamente que sua vida era de fato a mais sem graça do mundo.
Não tinha um marido por quem zelar e a quem devia obedecer, seguindo padrões estabelecidos séculos antes dela. Não tinha filhos por quem se preocupar e que, ao final da vida, iriam culpa-la pela forma como haviam sido criados. E não tinha amigos com quem pudesse sair, aproveitando a vida, e que lançariam olhares feios a ela quando cometesse algum erro perto deles.
Ela acordava todos os dias e sentava na mesma sala de aula há trinta anos, onde fitava sem ânimo as crianças de seis e sete anos olhando para sua cara, sem saber que por trás daquela professora boazinha havia uma mulher em desespero e sem motivos para viver...
Portanto, não deveria ter sido surpresa para ninguém quando, naquela manhã de um dia qualquer, os alunos entraram brincando e sorrindo e saíram gritando e correndo da sala da primeira série, onde sua amada professora se encontrava, pendurada pelo pescoço na cortina da janela, com os olhos esbugalhados, o rosto arroxeado e a língua para fora, como uma boneca de trapos de um filme de terror.

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